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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Independente

Terça feira, do nada, Bebel começou a gritar no corredor da escola:
- Eu não quero que vc me leva na sala! Não quero! Não quero!

Fiquei horrorizada. Destranquei a porta que ela fazia com o corpo com a chave especial que abre e fechadura no umbigo e consegui levar a menininha emburrada para a sala. A professora disse que não observou nada estranho nos dias anteriores.

Em casa, conversando sobre o assunto ela disse:
- É que meu colega chegou sozinho na sala ontem.

Imaginei a cena. A mãe atrasada para o trabalho, deixou o filho na porta da escola e foi correr atrás. Interessante a repercussão do menino chegando sozinho para Bebel.

-Então vamos combinar. Amanhã eu converso com a sua professora e vc vai poder ir sozinha para a sala sempre que quiser, tá?

- Tá. Quando eu tiver 10 anos, posso sair sozinha?

Meu coração acelerou e eu tive que parar para pensar:
- Quando vc fizer 10 anos e for bem obediente, pode.

- Eu SOU obediente.

- É mesmo, Bebel.

Dei uma choradinha despistada hoje quando Bebel despediu-se de mim na porta da sala do João e foi embora  para sala dela.

sábado, 25 de junho de 2011

Utilidade

Adoro ser elogiada pelas aulas que dou.  Outro dia aluna disse que gostou das minhas aulas porque o conhecimento foi útil. . Touchê. Quando as pessoas falam que acharam minhas aulas divertidas, eu agradeço, mas penso: "será que essa pessoa acha que sou palhaço?". Tudo bem a didática ser intreressante, mas bom , bom mesmo, é dar aula útil.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tonalidades de rosa

Trecho da conversa da Bebel com a bisa:
-" ...porque tem rosa claro, rosa choque e rosa pink."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quica, João!

Eu não gosto de frescura com criança. Eles são bichinhos que aprendem fazendo. Correr, por exemplo. Tem que cercar para evitar o perigoso: alturas, buracos, quinas, pontas, pedras. O trabalho mesmo é correr atrás para não perder de vista. E como caem! Cada tombo de barriga, que, se fossem adultos, ia precisar chamar o SAMU. Criança não! Eles caem e olham para mim com cara de: "machuquei mamãe?". Se a gente olha com cara horrorizada, abrem o berreiro. Se não, levantam e continuam. Melhor assim. Criança tem mola, cai e quica. Caso contrário, nossa espécie não tinha sobrevivido.

Quase

João anda na rua apontando os ônibus, caminhões, motos e, de um tempo para cá, os números. Hoje, no colo, ele apontou a placa de permitido estacionar e falou: têixxx. Eu tive que parar para pensar sobre a diferença entre o 3 e o E.

Quem usa bengala é...

A prole, Poliana e eu fomos ao Expominas. A aventura começou no metrô, meio mais econômico para ir para a Gameleira. Sentamos nos assentos preferenciais e Bebel foi descrevendo os desenhos de quem pode sentar lá: "pessoa com o pé machucado, mamãe com nenem na barriga, mamãe carregando seu filhinho e moço de banguela".

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Lado A, lado B e lado D de Doido

Quem sabe o que eram discos de vinil lembra que no lado A estavam os melhores sucessos e no lado B, as músicas chatas e desconhecidas. No nosso lado A tem aquelas coisas das quais nos orgulhamos, nossas medalhas, nossos diplomas, os bons amigos que conquistamos, aquela característica charmosa da personalidade, nossa disciplina, os filhos bonitos. O lado B tem o nosso pior, a preguiça, as invejas, as desorganizações, os fracassos, os vexames. Lado D de doido é aquela patologia que está na Classificação Internacional dos Transtornos Mentais e do Comportamento. Todo mundo tem pelo menos uma, varia só a intensidade.     

terça-feira, 14 de junho de 2011

Slut Walk

A Marcha das Vadias   trata-se de uma onda de protestos contra a culpabilização das vítimas de estupro e de outras formas de violência sexual.


Há muito oba-oba e incompreensão sobre o significado dessa marcha, que acontece em BH nesse sábado. Eu mesma, estranhei a disposição de mulheres se auto-proclamarem vadias e correrem o risco de verem sua foto no jornal sob essa pecha. Inteirei-me mais sobre o assunto, a origem da marcha e achei a idéia interessante.

Há um post da Cynthia com a história e ótima análise sobre o assunto.
Segundo  Lia A brincadeira, a piada, ironia é muito bem-vinda e inteligente quando é utilizada para quebrar preconceitos e combater a violência. É esse o sentido da marcha, ao mostrar de maneira irônica e engraçada de falar que as mulheres podem se vestir, andar e agir como quiserem, sem serem agredidas.

Não vou me alongar sobre a aparente contradição entre feministas x femininas, vadias x feministas pois  Lola fez isso.  Prefiro um depoimento sobre a minha experiência na área. Na faculdade, acreditava que homens e mulheres eram iguais, não “só” os seus direitos. Para mim, tudo em relação à sexualidade (exceto a reprodução) e aos comportamentos afetivo-sexuais eram construções sociais. Hoje eu acredito que há algo de essencial na questão macho e fêmea, apesar disso não se relacionar necessariamente ao sexo biológico do indivíduo e não ser uma coisa monolítica.

O resumo da ópera é que, aos 18 anos eu queria desconstruir as questões sociais que envolviam papéis engessados adstritos ao gênero, numa cruzada quixotesca em meio a um moralismo travestido. Fui muito incompreendida, mas, felizmente, essa incompreensão só se manifestou sob a forma de hipocrisia e nunca de violência física. Para  minha própria surpresa, vivi feliz num casamento tradicionalíssimo por mais de década.

Sempre fui rebelde em relação às instituições sociais nas quais apenas uma classificação binária homem/mulher, santa/puta, cuidador/provedor (dentre outras) é inteligível. Qualquer classificação binária não abarca as nuances individuais e coletivas da exuberante diversidade nas formas de manifestações sociais afetivas sexuais humanas. A experiência só me fez sentir mais admiração pelas pessoas que vivem abertamente suas orientações “não-ortodoxas”, e nesse contexto, desempenham seus papéis sociais, externalizam suas verdadeiras identidades e se relacionarem com outras com amor e/ ou, pelo menos, respeito.

O que exclui idiota machista preso(a) em representações arcaicas que acham que a saia curta e o decotão são motivos para agirem como os bárbaros(as), para agredirem verbal e fisicamente as mulheres (ou gays) que desafiam sua  precária identidade e sua a rasteira (ou inexistente) compreensão de alteridade.

Dito isso, esperem por mim e meus filhos na Praça da Estação sábado. Vou andar de metrô, encontrar pessoas minhas amigas, ver coisas diferentes, dar um passada no Parque Municipal. Leve. E tirar foto para postar no facebook.

O bonito e o doido

Ensinar gíria para criança é questionável, eu sei. Mas adoro a categoria "doido", em seu sentido "exótico", "diferente", "chamativo" e até "exuberante". Chamo as crianças de "doidinhas" quando elas fazem uma coisa engraçada, uma baguncinha fofa, dando elasticidade ao conceito. Chamo atenção para as coisas na rua: "ó que doido, aquele grafitti, aquele cachorro, aquela praça, aquela pessoa, etc."

Bebel me fez pensar nas diferenças entre o que  se diz e o que se entende quando se trata dessas palavras genéricas. Passou por nós um homem com dread-lock e saia. Eu chamei a atenção: "ó, Bebel, olha o moço, que doido! Você acha bonito?"

- Mamãe, doido é doido, bonito é bonito. O moço é doido.

Trabalhador da Limpeza

Camila Pitanga fez um laboratório para ser faxineira numa novela. Vestiu-se de marrom e foi trabalhar na limpeza no próprio Projac. O uniforme sobrepujou sua beleza e, conforme ela disse, ficou impressionada com a condição de invisibilidade das pessoas que limpam o chão, o banheiro e nossas lixeiras.

A partir daí, comecei a chamar a atenção da Bebel e do João para essa categoria profissional. Quando o caminhão de lixo engarrafa o trânsito da nosso bairro de ruas estreitas, em vez de buzinar e xingar, como os outros motoristas, ensinei que eram os trabalhadores da limpeza deixando a nossa rua bem limpinha.

Os dois entenderam a mensagem e conseguem ver os lixeiros e varredores de rua à distância, em seus uniformes laranja. Bebel, mais atenta a essas questões de gênero aponta: olha, um trabalhador da limpeza menino!, uma trabalhadora da limpeza menina! Chato, mas engraçado, foi o dia que chamou a atençaõ para a mãe de um coleguinha, que abafava num modelito laranja: "alá, mamãe, uma trabalhadora da limpeza na escola". Felizmente, a mulher fingiu que não ouviu.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Obrigado e desculpa

João aprendeu que há duas palavras mágicas que abrem as portas do coração de qualquer um: obrigado e desculpa. Acho que ele não sabe direito o significado de cada uma. Ou se sabe, finge que não sabe e usa as duas indiscriminadamente, sempre com efeitos positivos nas pessoas à sua volta.

- Obrigado, mamãe! Desculpa, bebel! Obrigado, vovó!

A gente acha lindo e reforça o comportamento. Mas tem que segurar a onda. É tão bonitinho, mas tão bonitinho, que corre o risco dele passar a gente no bico, só na marotagem.

Ser completa

Ser mãe é bom mas final de semana solo é bom também. Passei quase 48 horas só com adultos, fazendo coisas de adultos, comendo sentada 5 refeições, dormindo a noite inteira. Terminado o domingo, acordei na segunda feira com Bebel e João pulando na minha cama. Ficamos debaixo do edredon conversando, beijocando, eles contando o fds deles. Folga de mãe é bom porque a gente volta bela, descansada e até amando mais os filhos.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Quase

- João, quantos patinhos tem aqui?
- A....E.....I.....O.....U.

Papo filosófico para crianças

Bebel me pegou desprevenida:
- Mamãe, depois que a gente morre acontece o que?
- ...
- Acaba, não é?
- Acaba. Igual todas as coisas vivas. Nascem bebezinhas, viram crianças, adultas, velhinhas, e quando está bem velhinha, morre. ("Se der sorte", pensei, mas não falei)
- Igual as folhas das árvores.
- Igualzinho.  Mas as pessoas, depois que morrem , continuam um pouquinho na lembrança das pessoas que gostavam dela.
- Na imaginação, não é?

Poxa, Bebel. Cresce não.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A walk on the wild side

Hoje, sou feliz no caminho que estou trilhando. Construi alguma coisa, em termos tangíveis e intangíveis. Tenho  minha família próxima, bons amigos, um trabalho que gosto e 2 filhos maravilhosos.

Mas bom, bom mesmo, é ser mãe. Sem a hipocrisia de falar que tudo são flores, afirmo que tem nada melhor que abraço e beijo de filho, sorriso de filho, brincadeira de filho. Ver os bichinhos crescendo, aprendendo, virando pessoas além de mim. “A walk on the wild side”, para mim, é cuidar deles,educa-los, ensiná-los a serem felizes, independentes, brincar com eles. Isso significa cuidados  24 horas, comer em pé, acordar de madrugada, não gastar comigo para gastar com eles e sentir, pela primeira vez, uma sensação de impermanência que mete medo.

Ser mãe para mim, é viver uma vida completa, repleta de amor por duas pessoas que carregam meus genes para a eternidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Farão tudo o que eu mandar?

Minha mãe, em toda a sua sabedoria, brincava comigo e com minha irmã de Boca de Forno. Quando a situação ameaçava sair do controle, ela falava: “Boca de forno!”.

Minha irmã e eu, exultávamos: “Forno!”

- “Farão tudo o que mandar?”

- “faremos todos!”

- “E se não fizer?”

- “Ganharemos bolo!” (eu sabia, na época, que bolo é um tapa na mão. Achava engraçado bolo tapa ser igual a bolo comida e tinha certeza que não ia apanhar, mas a ameaça fazia parte da brincadeira. Isso acontecia no século passado, antes dos exageros politicamente corretos de educação de crianças)

- “Então, vai ali, vai ali, e dá 2 voltas correndo no quintal”, “50 pulos de um pé só”, “20 voltas em torno da mesa”

E lá íamos nós, fazer o que ela mandava, na felicidade típica de criança que brinca com a mãe. Ela podia ficar tranquilamente lendo ou fazendo coisas que os adultos fazem enquanto nós gastávamos a energia aparentemente inesgotável de criança.

Hoje, brinco de Boca de Forno com meus filhos, com os mesmos efeitos . Eles adoram. Bebel encabeça a brincadeira e João, rabicho, vai atrás. E eu posso, às vezes, até sentar um pouco.