O programa começou errado na saída. Depois de
abastecer $20. o cartão, única forma de pagamento disponível, não
passou. Bebel, do meu lado, não era com ela. João dormia no banco de trás. Do
lado de fora, sol rachando e 30 minutos para chegar no compromisso. Eu tinha
certeza que tinha saldo, mas a Caixa Econômica Federal demorou mais de 30 minutos para identificar a transação entre duas contas de mesmo cpf.
O frentista, o mesmo que me atende semanalmente (e está
acostumado a me ver pingar mixaria de gasolina no tanque ) bateu o
martelo: “não posso fazer nada. Estaciona ali e conversa com a gerência”. Nos
minutos seguintes, fui ignorada por alguém em uma
janelinha na tentativa de fazer uma transferência bancária para o posto. Pedi o frentista que me atende toda semana para passar o cartão mais uma vez. A transação foi aprovada e fui embora. Whitepeopleproblem, tudo bem. Mas valeu a aula que eu ganhei depois.
Entrei
no carro bufando e subi Bahia soltando cobras e lagartos até Bebel dar o limite: “Olha, o
banco e o posto estava errados, mas vc estava errada também”. O que vc acha de andar por
aí sem nem um tostão no bolso? Continuou ela: “agora que resolveu, vc está
xingando por causa de que? ”
- “porque eu passei de caloteira
na frente de vcs”. Até eu achei o argumento ridículo. Tão ridículo que
João riu no banco de trás: “ Esse não está na sua lista de defeitos”
Bebel continuou. O frentista é um
babaca porque parecia que estava gostando, mesmo com aquela cara de “coitada,
só estou cumprindo ordens. “Só que”, ponderou Bebel, “ele estava fazendo o
trabalho dele. Nem mais, nem menos. E vc devia era parar de reclamar”. Recolhi
miudinha.
Chegando no compromisso, faltando 5 minutos,
João abre a porta do carro sem olhar e bate no carro que
passava na hora. Desce um cara, olha o estrago na
lataria, me olha: “ Deu nada não, dona”. João, o escoteiro: “Deu sim, Olha aí!” Deu mesmo. E foi feio. Nisso, a esposa
sai do carro : “pois é, olha o prejuízo, acontece mesmo, eu tbm tenho filhos, olha que
perigo, , menino é %@#$ mesmo”. Eu nem tinha argumento,
mas ela viu minha cara de: “filhos tbm? Sabe como é. Olha aí. Monte
de conta e esse prejuízo aí. Graças a Deus o pirralho está inteiro”. Fato é que em vez
de me cobrar uma pequena fortuna de lanternagem, ela entendeu e relevou. Porque
existe gente assim.
Depois que o casal foi embora, dei a lição (mais aliviada do
que com raiva, mas fiz cara de intimidadora): “atenção para abrir a porta do
carro. Em algum universo paralelo, o outro carro levou a porta e um pedaço do
João e o que a gente não está aqui de boas” Isso tudo antes do compromisso,
que, afinal de contas a gente chegou no horário.
No caminho, com bom humor e
certo sarcasmo, Bebel : “chorando DE novo, mamãe?”