Não senti
nada daquela coisa que a grávida fica linda e resplandecente. Eu me sentia pesada e gorda. Acho bonito as mulheres que passam a gravidez com mais elegância do
que eu passei. Bela não, mas saudável, o que é o mais importante.
Grávida de 9 meses , sem empregada e cuidando da Bebel tive que desenvolver a “Teoria Lata d´àgua”. Pelo menos eu não tenho que andar para buscar água fora de casa, porque se tivesse, teria que ir . Ou seja, no perrengue a gente agüenta.
Quando as
pessoas falavam que eu não ia mais dormir, não acreditava. Não leve isso tão a
sério! Acontece, mas não é o fim do mundo. A Bebel já estava dormindo a noite
toda com uns 3-8 meses. Depois veio o João e começou tudo de novo. Uma noite,
ele aos 3 meses e ela aos 2 anos, tive uma longa, deliciosa e revigorante noite
inteira de sono. Fica melhor ainda depois que se é privada dela por algum
tempo.
Que é
cansativo e fisicamente extenuante, é. Mas dá para viver além da maternidade.
Continuei mulher . Terminei o
mestrado entre bebês, apresentei artigo em congresso. Tem muito terror nessa tal
“trabalheira”.
Não
espere amar instantaneamente aquele estranho que te entregarem na maternidade.
Não espere que, no primeiro dia, o leite jorre deliciosamente. Os primeiros
dias com a Bebel foram dureza. Com o João foi mais fácil porque eu já sabia o
que esperar: pontos, dor, chateação. Passa.Depois disso, esqueci todas as
coisas ruins que passei com a Bebel ( e que nem foram tantas) e engravidei do
João. A natureza é sábia, o que é ruim a gente esquece mesmo.
Pai é
bom, mas não espere muito dele, que estará aterrorizado, muito mais do que
você. O costume ainda é a mulher cuidar dos filhos, por mais que o pai ache que faz o máximo que pode. Avós são ótimas companheiras
da mãe de primeira viagem nessa hora, principalmente se são discretas e
não-mandonas. Uma boa ajudante é fundamental. Se ela for boa com bebês e
crianças sua qualidade de vida terá melhoras significativas.
Alguns
dias você terá vontade de chorar, de apelar com todo mundo, com o filho, de
fugir. Com certeza você vai sentir saudades dos tempos remotos que ir à padaria
era simples. Ir ao cinema, então...
Provavelmente ficará desapontada, como eu
fiquei, com a falta de troca nas interações com um recém-nascido. Melhora.
A minha
impressão é que bebês são menos frágeis do que aparentam. Nossa espécie
sobreviveu à fome, predadores variados. O bebê sobreviverá aos nossos cuidados
maternos num apartamento de classe média. Estatisticamente há mais chance das
coisas darem certo do que errado.
Depois que o bebê aprender a sorrir, você vai
sentir um amor tão forte que não dá pra explicar. Esse amor vai se renovando a
cada coisa nova que ele for aprendendo. Um filho é como um re-nascimento, como
ver tudo de novo com o olhar de uma criança, com ternura e responsabilidade.
Com disse Moraes Moreira: “Entrou no meu coração e sentou na minha mão”.
Assisto, maravilhada, cada pequena aprendizagem e como, de um dia para o outro,
eles dão um salto e viram outra pessoa, continuando os mesmos.
Fiquei
mais esperta, mais objetiva e menos chorona depois da maternidade. Consegui
boas oportunidades profissionais. Curei de uma antiga falta de sentido
existencial. Sinto-me plena e realizada. Não é uma ou outra noite de sono que
vai mudar isso.