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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sobre a maternidade: "Eu só sei que nada sei"



Eu nunca pegava em filho dos outros. Acho respeitoso manter distância. Até para prevenir a reprovação quando o bebê alheio chorasse no meu colo.

Eu virei mãe de duas crianças. Uma tinha dois anos e outra menos de um quando separei. O pai nunca atrasou a pensão via os filhos em finais de semana alternados. A visita era livre. Esse foi o contexto. Sem dramas. 

A primeira coisa é gostar de ser mãe. Admiro e entendo quem assume que não quer. Tenho pena da família em que a maternidade é sentida como chata, insuportável. São compreensíveis as mulheres que falam que amam os filhos mas não gostam de ser mães. É um trabalho do caramba. “Filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabe-los?” Eu gosto . Isso é característica, não é vantagem.

Fato é que fui mãe solo, com todas as adversidades previstas. Sabe aquela conversa de que a maternidade atrasa a vida profissional? Verdade. Como dar aulas à noite todos os dias em outra cidade quando meus bebês estavam com uma pessoa com princípios totalmente diferentes dos meus?. Encontrei-me na Educação á distância, onde podia fazer tudo ao mesmo tempo, com a desvantagem de ganhar um terço.

Quando as crianças estavam na beira da adolescência, perguntei o que elas achavam da educação que tinham que tinham recebido até então; “É que você nunca tratou como se a gente fosse retardado”. Fiquei lisonjeada. “É que você não fazia para a gente o que a gente conseguia fazer sozinho”. Pensei: “nem dava, o trampo era tanto...”. Ela continuou: “você entregava a colher e falava: ‘se vira aí.’, o que é muito melhor do que dar na boca. É como se você ensinasse a gente a ser independente.” Logo eu, tão gauche na vida.

Eduquei para a autonomia. Falei cem, mil, milhões de vezes para que arrumassem as próprias coisas, cuidassem dos estudos, da higiene pessoal. Aguentei pacientemente (outras nem tanto)  pitis do tipo “eu quero tudo do meu jeito agora” até o dia em que aprendeu-se que aquele comportamento não ia ser reforçado. Doutrinei iluminismo cotidianamente, dando informações e opiniões, batendo papo, porque a vida é passeio e nós, bichos naturalmente curiosos e gregários
.
As pessoas próximas me acham em ligeira des-sintonia com o mundo, para bem e para mal. Talvez eu seja otimista demais, desligada demais, ansiosa de menos. Característica, com vantagens e desvantagens. Talvez isso influencie no quanto eu acredito na competência das crianças para se virarem. Eu dou corda e eles vão. Meu papel é me tornar desnecessária o mais rápido possível. É ensinar a andar na rua, depositar e sacar dinheiro, fazer compras, pagar boletos, essas coisas que a vida adulta exige, quer a gente queira, quer não. Eles gostam de aprender. Ajuda e entender o mundo. Nada tão ridículo quanto marmanjinho sendo levado pela mão, avoado do que se passa ao redor.

O Lobo Mau existe e tem várias peles. É o psicopata, o pedófilo, o assaltante, quem é propenso a relacionamentos abusivos, a pessoa violenta, extremista, explosiva, a louca alucinada, a parasita sanguessuga, a invejosa destruidora de reputações, a chata passivo-agressiva... Protege ensinar a identificar predadores, saber como agir quando ele já nos viu e a gente não, não ser o idiota que se separa rapidamente do seu dinheiro, não se colocar em riscos e a prevê-los.

A diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Como não deixar a criança ansiosa e amedrontada com tanta informação? Como dar a informação na medida certa para que ela caminhe com liberdade e responsabilidade? Estou aprendendo até hoje.



[i] Barão vermelho- Porque que a gente é assim?
[ii] Vinícius de Moraes. Poema Enjoadinho
[iii] Fernando Pessoa. Poema em linha reta

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Calmaê, mamãe.

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O final de semana foi na roça, em casa com janela da cozinha com vista para a serra. João acordou no horário dele e foi tomar café. Preparou sua comida e sentou para comer, tranquilão e contemplativo. Nisso entro eu, frenética com os preparativos para aproveitar o dia ao máximo: "Vai escovar dente, pentear o cabelo,deixa eu passar o protetor em vc, cadê seu chinelo e sua camisa?". 


João me olhou, disse. "calmaê" e deu uma aula sobre quietude interior.