Total de visualizações de página

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Aconteceu hoje



- Mamãe, se vc pudesse escolher viver para sempre ou viajar no tempo, qual ia ser?"

- Se vc pudesse manter a sua consciência, qual corpo vc ia escolher? Um milho humanóide ou um espantalho que não fica grudado? 

- O que vc acha do K-Pop? 

quarta-feira, 12 de junho de 2019

A matemática dos pragmáticos

Os dois problematizando o para-casa.

Filho 1:
- Olha só a pergunta: O menino tem 530 figurinhas. Comprou mais 280.  Maior acumulador

Filho 2:
- Olha aqui. O desse problema aqui comprou um suco de $20. Mamãe nunca ia deixar.

Hora do almoço

Bebel que puxou o assunto:
- Mamãe, porque que a gente não tem uma conversa normal na hora do almoço?
Estranhei:
- A gente sempre tem conversa normal, uai
-Tem nada, na casa dos meus colegas as pessoas conversam sobre a escola, sobre o trabalho
- A gente também.
-  A gente não.
Nisso os dois concordavam, que o nosso assunto era outro. Bebel continuou:
- A gente fala de filosofia, política, da luta de classes, de como destruir o patriarcado.
- E de mais comida. completou João
Pois é.

domingo, 21 de abril de 2019

O rebelde e a bolha



Era um sábado de sol e estava prestes a começar um teatro infantil no parque municipal. As cadeiras ainda estavam vazias e a hora de começar a peça estava chegando. Foi quando eu vi a Bolha. Os dentro da bolha era o grupo a que eu pertencia,  pessoas que foram no parque assistir a peça e os organizadores do evento. Ocupávamos as cadeiras, tranquilos, brancos e sorridentes. Os fora da bolha eram as famílias que foram no parque passear e deram com o evento. Escutavam o convite, iam lá para ver mas passavam direto orientando as crianças para não irem, que devia pagar, que ali não era o lugar deles. 

Várias famílias pobres, pretas e pardas passaram e não entraram, mesmo as cadeiras estando vazias, mesmo as crianças pedindo, mesmo convidadas pela caixa de som. Repelidas pela Bolha, antiga e invisível.

Mas o mendigo não. Maltrapilho, nenhum dente na boca, cheiro peculiar, a cara era mistura de cachaça, transtorno mental e criança que vai no circo. Bateu palma, riu, recebeu bandeirinha e torceu para a Chuva, um dos pretendente da princesa, por quem ela era apaixonada.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Como ser menos chata

                                 Resultado de imagem para mulher dramática



                        
O programa começou errado na saída. Depois de abastecer $20. o cartão, única forma de pagamento disponível, não passou. Bebel, do meu lado, não era com ela. João dormia no banco de trás. Do lado de fora, sol rachando e 30 minutos para chegar no compromisso. Eu tinha certeza que tinha saldo, mas a Caixa Econômica Federal demorou mais de 30 minutos para identificar a transação entre duas contas de mesmo cpf. O frentista, o mesmo que me atende semanalmente (e está acostumado a me ver pingar mixaria de gasolina no tanque ) bateu o martelo: “não posso fazer nada. Estaciona ali e conversa com a gerência”. Nos minutos seguintes, fui ignorada por alguém em uma janelinha na tentativa de fazer uma transferência bancária para o posto. Pedi o frentista que me atende toda semana para passar o cartão mais uma vez. A transação foi aprovada e fui embora. Whitepeopleproblem, tudo bem. Mas valeu a aula que eu ganhei depois.

Entrei no carro bufando e subi Bahia soltando cobras e lagartos até Bebel dar o limite: “Olha, o banco e o posto estava errados, mas vc estava errada também”. O que vc acha de andar por aí sem nem um tostão no bolso? Continuou ela: “agora que resolveu, vc está xingando por causa de que? ”

- “porque eu passei de caloteira na frente de vcs”. Até eu achei o argumento ridículo. Tão ridículo que João riu no banco de trás: “ Esse não está na sua lista de defeitos”

Bebel continuou. O frentista é um babaca porque parecia que estava gostando, mesmo com aquela cara de “coitada, só estou cumprindo ordens. “Só que”, ponderou Bebel, “ele estava fazendo o trabalho dele. Nem mais, nem menos. E vc devia era parar de reclamar”. Recolhi miudinha.


Chegando no compromisso, faltando 5 minutos, João abre a porta do carro sem olhar e bate no carro que passava na hora. Desce um cara, olha o estrago na lataria, me olha: “ Deu nada não, dona”. João, o escoteiro: “Deu sim, Olha aí!” Deu mesmo. E foi feio. Nisso, a esposa sai do carro : “pois é, olha o prejuízo, acontece mesmo, eu tbm tenho filhos, olha que perigo, , menino é %@#$ mesmo”. Eu nem tinha argumento, mas ela viu  minha cara de: “filhos tbm? Sabe como é. Olha aí. Monte de conta e esse prejuízo aí. Graças a Deus o pirralho está inteiro”. Fato é que em vez de me cobrar uma pequena fortuna de lanternagem, ela entendeu e relevou. Porque existe gente assim. 


Depois que o casal foi embora, dei a lição (mais aliviada do que com raiva, mas fiz cara de intimidadora): “atenção para abrir a porta do carro. Em algum universo paralelo, o outro carro levou a porta e um pedaço do João e o que a gente não está aqui de boas” Isso tudo antes do compromisso, que, afinal de contas a gente chegou no horário. 

No caminho, com bom humor e certo sarcasmo, Bebel : “chorando DE novo, mamãe?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Sobre a maternidade: "Eu só sei que nada sei"



Eu nunca pegava em filho dos outros. Acho respeitoso manter distância. Até para prevenir a reprovação quando o bebê alheio chorasse no meu colo.

Eu virei mãe de duas crianças. Uma tinha dois anos e outra menos de um quando separei. O pai nunca atrasou a pensão via os filhos em finais de semana alternados. A visita era livre. Esse foi o contexto. Sem dramas. 

A primeira coisa é gostar de ser mãe. Admiro e entendo quem assume que não quer. Tenho pena da família em que a maternidade é sentida como chata, insuportável. São compreensíveis as mulheres que falam que amam os filhos mas não gostam de ser mães. É um trabalho do caramba. “Filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabe-los?” Eu gosto . Isso é característica, não é vantagem.

Fato é que fui mãe solo, com todas as adversidades previstas. Sabe aquela conversa de que a maternidade atrasa a vida profissional? Verdade. Como dar aulas à noite todos os dias em outra cidade quando meus bebês estavam com uma pessoa com princípios totalmente diferentes dos meus?. Encontrei-me na Educação á distância, onde podia fazer tudo ao mesmo tempo, com a desvantagem de ganhar um terço.

Quando as crianças estavam na beira da adolescência, perguntei o que elas achavam da educação que tinham que tinham recebido até então; “É que você nunca tratou como se a gente fosse retardado”. Fiquei lisonjeada. “É que você não fazia para a gente o que a gente conseguia fazer sozinho”. Pensei: “nem dava, o trampo era tanto...”. Ela continuou: “você entregava a colher e falava: ‘se vira aí.’, o que é muito melhor do que dar na boca. É como se você ensinasse a gente a ser independente.” Logo eu, tão gauche na vida.

Eduquei para a autonomia. Falei cem, mil, milhões de vezes para que arrumassem as próprias coisas, cuidassem dos estudos, da higiene pessoal. Aguentei pacientemente (outras nem tanto)  pitis do tipo “eu quero tudo do meu jeito agora” até o dia em que aprendeu-se que aquele comportamento não ia ser reforçado. Doutrinei iluminismo cotidianamente, dando informações e opiniões, batendo papo, porque a vida é passeio e nós, bichos naturalmente curiosos e gregários
.
As pessoas próximas me acham em ligeira des-sintonia com o mundo, para bem e para mal. Talvez eu seja otimista demais, desligada demais, ansiosa de menos. Característica, com vantagens e desvantagens. Talvez isso influencie no quanto eu acredito na competência das crianças para se virarem. Eu dou corda e eles vão. Meu papel é me tornar desnecessária o mais rápido possível. É ensinar a andar na rua, depositar e sacar dinheiro, fazer compras, pagar boletos, essas coisas que a vida adulta exige, quer a gente queira, quer não. Eles gostam de aprender. Ajuda e entender o mundo. Nada tão ridículo quanto marmanjinho sendo levado pela mão, avoado do que se passa ao redor.

O Lobo Mau existe e tem várias peles. É o psicopata, o pedófilo, o assaltante, quem é propenso a relacionamentos abusivos, a pessoa violenta, extremista, explosiva, a louca alucinada, a parasita sanguessuga, a invejosa destruidora de reputações, a chata passivo-agressiva... Protege ensinar a identificar predadores, saber como agir quando ele já nos viu e a gente não, não ser o idiota que se separa rapidamente do seu dinheiro, não se colocar em riscos e a prevê-los.

A diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Como não deixar a criança ansiosa e amedrontada com tanta informação? Como dar a informação na medida certa para que ela caminhe com liberdade e responsabilidade? Estou aprendendo até hoje.



[i] Barão vermelho- Porque que a gente é assim?
[ii] Vinícius de Moraes. Poema Enjoadinho
[iii] Fernando Pessoa. Poema em linha reta

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Calmaê, mamãe.

Resultado de imagem para lapinha da serra















O final de semana foi na roça, em casa com janela da cozinha com vista para a serra. João acordou no horário dele e foi tomar café. Preparou sua comida e sentou para comer, tranquilão e contemplativo. Nisso entro eu, frenética com os preparativos para aproveitar o dia ao máximo: "Vai escovar dente, pentear o cabelo,deixa eu passar o protetor em vc, cadê seu chinelo e sua camisa?". 


João me olhou, disse. "calmaê" e deu uma aula sobre quietude interior.