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terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O ecumênico



A tarde de brincadeiras, prévia da Colônia de Férias aconteceu no verão em um quintal de terra. Eu tinha plano A para dia de sol, plano B para chuva leve e plano C para chuva torrencial. Tudo indicava que ia ter tempestade. Comentei com as crianças que tinha mandado um whatsapp para São Pedro peticionando dia de sol. 

João:
- Mamãe, voce tem que mandar é pra todos os deuses da chuva.

Obs. As petições foram deferidas


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Sobre ratos, biscoitos e a Bebel

Contei que quando eu estava na faculdade de psicologia tinha uma disciplina que estudava o comportamento. Aprendi que se uma pessoa dá um reforço ou uma punição quando outra tem determinado comportamento, isso aumenta ou diminui a probabilidade daquele comportamento repetir. Na faculdade, testávamos a hipótese condicionando ratinhos. Adulta, testei com crianças e ensinei Bebel e João a observarem os condicionamentos operantes da vida.  

Outro dia eu estacionei na frente da loja e desci para pegar uma encomenda. Eu sempre faço todo mundo descer comigo, mas nesse dia estava chovendo, era rapidinho que eu falei que quem quisesse ir comigo, que fosse, quem não quisesse, ficasse.

Bebel:

-"Eu fico!", e pensou um pouquinho. "Mamãe, você quer um biscoito?”

domingo, 11 de dezembro de 2016

Saudade da mãe

As crianças entraram de férias da escola e da mãe e viajaram para a praia. Eles satisfeitos, eu satisfeita. Bom poder dedicar 15 dias integralmente aos meus próprios projetos.

Na véspera da viagem, conversamos sobre saudades. Brinquei que eles iam lembrar de mim o tempo todo: quando acordassem, quando fossem á praia, quando estivesses sendo mimados por 2 gerações de familiares. Eles riram; "É claro que não!". Bebel arrematou:
- A gente vai lembrar que você existe, na hora de vir embora quando pensar: "Ah é! Eu tenho mãe"

Ainda bem. Pessoas saudáveis e seguras não ficam pensando na mãe á toa. Pensam em suas paixões, sejam  pessoas, projetos, hobbies. Filho é paixão de mãe, ponto. Que quando eles chegarem na praia, o pensamento seja:


"Ê mundão!"  


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Eu não sou a mãe que pensava que seria


O post Tudo sobre minha mãe fala sobre a diferença entre a mãe que a gente pensava que seria e a mãe que a gente realmente é.

Quando eu era só filha, imaginava que ser mãe era brincar com bonequinos fofinhos que iam encher de felicidade minha vida 24 horas do dia. Que cuidar, alimentar, educar filhos eram só risos e alegria. Que quando isso não acontecia na minha vida de filha, era por causa de uma injustiça e não por causa do movimento natural da vida.

 Aí vem a realidade. Cuidar, alimentar e educar custam caro, demandam tempo, esforço e certa abnegação. O próprio umbigo sai do centro do universo.As responsabilidades dão cabelos brancos e rugas.Eu não sabia que mãe cansava de brincar com filho, que mãe cansava, que mãe ficava de saco cheio e às vezes só queria assistir netflix sossegada.

De vez em quando eu sou a mãe que pensava que seria.  Mas sou também a mãe chata, mandona, que fica impaciente, que deixa bagunçado, que fala demais, que sente preguiça, que resmunga. Deve ser normal.  😉

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O jambeiro



Na primeira vez em que eu morei nesta casa, em 1980 o jambeiro já estava aqui. Quando voltei, aos 40, não lembrava do gosto da fruta. Pouca gente conhece a fruta e a maioria surpreende-se ao saber que jambo é amarelo (ou vermelho) e não "moreno".

Até outro dia, do jambeiro só me interessava a sombra. Só que as árvores, como as pessoas, mudam ao longo do ano. As flores começaram em julho. Encheram o quintal de insetos e o chão de pétalas. Quando as frutas começaram a amadurecer veio o cheiro doce. O gosto é bom mas não é espetacular como uma manga, por exemplo. A abundância é que a peculiaridade. Sacos e mais sacos de jambo. Os que a gente pegava no pé, distribuía aos montes para os amigos. O proximo desafio é criar coragem pra subir na árvore pegar jambo lá do alto.
 .


quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sobre brincar de construir robôs

As crianças falaram que queriam fazer robôs. Eu, quando criança, queria tambem e o material disponível eram latas, rolos de papel higiênico e bombril.

Pesquisei Kits de Robótica e  comprei um Kit para iniciantes, com partes elétricas e mecânicas.


Quando as caixas chegaram, estudei o manual e lembrei de coisas que meus professores de física tentaram de ensinar, só que de um jeito que não despertou meu interesse. No manual de Robótica é tudo simples, prático e acontece na nossa frente.

Comecei a brincadeira com Bebel e João pela parte elétrica. Como fazer o “Cérebro” do robô funcionar, os leds, interruptores, motores, alarme, o eletroímã, sensores de movimento e luz. Onde liga cada coisa, como eles funcionam. Eu planejei que a brincadeira manteria o interesse da turma por aproximadamente 1 hora, mas o assunto rendeu mais de 2 horas. O objetivo era fazer tudo funcionar de primeira, o que é difícil para caramba para nós, inicantes.

No dia seguinte, as crianças escolheram qual robô, dos que estavam na ilustração da capa da caixa, eles queriam montar. Eles escolheram um Guindaste movido a motor e polia.  Deixei o Manual de Instruções disponível no computador e separamos as peças que seriam necessárias. É nata a disposição que eles tem para aprender sobre eixos quadrados, plataformas, mancais, vigas, engrenagens e polias. Combinamos que eles se alternariam nos 155 etapas de construção do Guindaste.  A tarefa durou o sábado inteiro, com intervalos que as próprias crianças determinavam. Entrei só na parte de fazer as instalações dos componentes elétricos. Ver o nosso robô erguer e baixar coisas foi emocionante. Houve esforço, mas não houve sofrimento. Como devem ser as coisas boas da vida.


O robô pronto despertou o interesse das outras crianças que frequantam a casa. No Dia das Crianças, agregamos Davi (10) anos para a construção do robô 2, um Patinete Dirigível Motorizado. O protocolo foi o mesmo, primeiro brincamos com a parte elétrica, depois passamos para o passo a passo da construção mecânica. Criança motivada a fazer alguma coisa interessante é uma coisa bonita de ver.


Após montarmos os 6 robôs desse Kit, vamos nos aventurar para os Kits como programação via software. Em pouco tempo, esses nativos digitais vão ter mais a me ensinar em Robótica do que eu a eles. 

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

De onde vem os bebês


 João perguntou de onde vem os bebês. Ele já tinha a sua hipótese mas queria testar a informação:
- Eu queria saber como é que faz pros carinhas que moram no saco do homem encontrarem com o ovo da mulher.
-Como é que vc acha? Faz um desenho aí para mim e me explica o que vc sabe.
Ele desenhou um homem e uma mulher com uma seta onde ele achava que moravam os "carinhas" e o "ovo". Até aí tudo certo.
- Eles nascem aqui no saco e devem ter que ficar na água porque eles não tem pernas.
- Os espermatozóides....
- É. Aí eles vão para o pinto. Como eles fazem depois?
E desenhou um grande ponto de interrogação entre os bonecos.
- Eles entram pela pepé.
- Ahhh!Eu achava que era pelo beijo. Ele saia do saco, passa por dentro e entra na mulher.
Uma hipótese interessante.

Outro dia ele me gritou do quintal:
- Mamãe, vem ver! Besouros siameses!!
- Eles estão fazendo besourinhos;
- Uai. Eu não sabia que besouro conseguia voar e fazer sexo ao mesmo tempo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Translate me- Parte 2


João estava jogando celular e me pediu para traduzir algumas palavras . A necessidade é a mãe da experiência e ele já sabia o significado de um monte de palavras em inglês:
- Jump é pular, né?
- É, João.
- Win a coin é ganhe uma medalha de ouro, né?
- O "de ouro" é por sua conta.
- Game é game mesmo, né?
- ...
- Mas se é de celular ou computador é game. Jogo é quando é no quintal.

Achei o argumento interessante e concordei com ele. Sincretismo é com a gente mesmo.

domingo, 11 de setembro de 2016

Translate Me


As crianças descobriram o Google tradutor. Eles testaram o inglês da escola e o japonês do judô. Depois foram brincar de se chamar de fedorentx e idiota em vários idiomas. 

O para casa de inglês das crianças é ver uma figura, ouvir um áudio correspondente e repetir. O adulto responsável colore uma carinha (alegre, mais ou menos ou triste) como forma de avaliar a tarefa. 

Coloquei as crianças para falar para o Google tradutor e ver quantas vezes tem que repetir as frases até o google considerar certo. Descobrimos que é muito mais do que a gente poderia imaginar. Só que é  diverido. O google é incansável e exigente. Com a vantagem que a gente vê as palavras escritas. 

Agora as crianças escrevem frases para mim e o computador repete em outra língua. Sou zoada em 30 idiomas. 







quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Experiência

A idade pode trazer sabedoria mas tira colágeno, e no meu caso, também a saúde dos ligamentos do tornozelo. Resultado: muletas e bota ortopédica. As crianças adoraram a novidade e estão descobrindo em quantas coisas (mais ou menos perigosas) uma muleta pode se transformar. Com as mudanças na rotina, descobri 2 crianças bem mais independentes do que eu imaginava,

Chegou da escola famintx? Esquentou a janta no microondas.Perdeu escova, pasta, lancheira? Ema, ema, ema, cada um com seu problema.  As tarefas da horta que era minha responsabilidade foram delegadas sem que os trabalhadores se revoltassem. As bagunças tem sido arrumadas pelos próprios bagunceiros, do jeito que tem que ser.

Daqui pra frente, começa a próxima etapa do desafio. Como não posso fazer atividade física, em poucos dias começa a rabugice, uma tensão que fica sobrando pra todo mundo.  Já avisei e vou fazer esforço para me controlar, mas costuma acontecer. A vida é a mãe da experiência.




quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Colônia de Férias



Organizar a Colônia de Férias, a primeira do Educanto,  foi unir o útil ao agradável. Sou professora e tiro férias escolares, mas conheço de perto o perrengue de quem sai para trabalhar e deixa crianças ociosas o dia inteiro em casa.

Anunciei a Colônia de Férias entre os amigos, nas redes sociais, na escola dos meus filhos e os pioneiros vieram. Algumas crianças eu já conhecia, outras não. Expediente de 8:00 às 18:00 durante a segunda quinzena de julho, com todas as refeições incluídas.  Nada que eu já não fizesse de graça, sem hora para terminar.

Circularam por aqui uma média 12 crianças de 2 a 11 anos. A programação balizou sem engessar. Teve quem levasse o prato para a cozinha pela primeira vez , quem largou o bico no carro, quem descobriu que suco de maracujá vem da fruta, quem se virou no banheiro  e trocou de roupa sozinhx. Teve quem plantou, fez buraco, comida de mentira, guerra de balão, desenhou no muro. Teve tombo e criança emburrada, para não dizer que só falei de flores.  Faz parte.

Alimentar 10 crianças exige sabedoria  e foi uma das muitas atribuições da Silea, a corajosa que me acompanha nestas empreitadas. Tem menino que gosta disso e não gosta daquilo. Que só quer comer fora de hora, que só quer almoçar arroz. Eu não obrigo criança a comer, mas regulo o acesso aos alimentos. Não almoçou nada e quer biscoitinho 13:30? O próximo lanche é às 15:00. Salade de frutas e torta de frango não deram ibope. Pipoca e bolo com nome de cupcake bombaram. Observei que, em ambientes tranquilos,   o mais resistente dos inapetentes (de hora de almoço) vai se liberando de ser pirracento e come o que o satisfaz. Sem pressão.

Fizemos a programação, cardápio, preparei brincadeiras e deixei rolar. Fato que criança gosta é de brincar com criança. Não precisa de quase nada, só espaço e criatividade. Melhor se tiver areia, piscina, revistinha, brinquedos, lama, pokemon. Às vezes todo mundo junto, às vezes separado.

Aprendemos muito e, mais importante, as crianças gostaram. Em janeiro tem mais.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Mamãe, vem brincar de pique!


Se as crianças te chamam para brincar de pique-pega, pique-alturinha, zumbi melancia ou qualquer uma das variações do tema, você pensa:

a) Oba! Atividade física!
b) Oba! Atividade lúdico-pedagógica!
c) Poder da invisibilidade, ativar!

Sei. ;-)

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Vitamina S: por um mundo com menos mimimi

Limpeza e segurança em excesso são um perigo para a saúde e tiram vida da vida, que nem frescura. Em tempos de paz e saneamento básico, faz sentido ficar cheio de mimimi? Dá-lhe terra, dá-lhe chão. As crianças saudáveis aguentam.



As Vitaminas S, aqueles anticorpos físicos e psicológicos que se ganha com experiências de autonomia, fazem bem. Caiu? Ralou? Tá doendo? Nós assustamos com tombo, mas a maioria deles é pra ensinar.  Se tá sangrando, beijinho e baba de mãe, cheia de anticorpos. Band-aid ajuda também. Se não tem sangue,  consegue mexer o lugar machucado? Se sim, tchau. Se o sofrimento está demais, gelo e sossego. Entrar no drama atrapalha, mas quem nunca?

Nas férias de julho, mexemos com água (e lama) quase todo dia. Teve concurso de mais sujo (disputadíssimo), de mais limpinho (com uma campeã invicta), de boca-roxa, de volta em volta da casa correndo (e tropicando). Quem ficava com frio, pegava a toalha e trocava de roupa. Mas não podia voltar. Daí que quem sabe o quanto a gente aguenta é a gente mesmo. E férias de criança sem um machucadinho deve ter sido bem chata.




segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tchau, Férias!

Quando eu era criança, no século passado, as férias eram no quintal de casa, com a meninada da vizinhança, de manhã até de noite. E não tinha nada melhor! Meus pais trabalhavam o dia inteiro e a vida era essa.

Li o texto Que férias são essas?  sobre a canseira que dá o suposto cronograma de diversões obrigatório das férias de hoje em dia. A verdade é que o legal das férias é a liberdade. O ideal (para adultos e crianças) é ter um tempo para só fazer o que gosta. E criança gosta de brincar, de preferência com outras crianças, de preferência ao ar livre.

Adulta, morando com crianças pequenas em um apartamento minúsculo, as férias viraram um desafio. Tiro férias junto com as escolas e me desdobrava para que meus filhos não virassem zumbis na frente da TV ou celular. A gente saía todo dia para clube, praça, visita, museu, parque, etc...Passear é uma delícia, mas como única alternativa, cansa. E dá-lhe apartamento! Daí que eu entendo as famílias que se engajam em (às vezes intensas) programações infantis.



Quando mudamos para casa com quintal, mudou também a nossa relação com o tempo livre. Ficar em casa, no quintal, na horta, ao ar livre, pé no chão, passou a ser o melhor programa do mundo. Isso tudo chama as crianças, muitas crianças.  E elas vieram.



Não fui no shopping, no cinema, na oficina de brinquedos reciclados. Não combinei "a melhor hora para brincar" com ninguem. Igual antigamente. Viva as férias!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Traumas que mamãe provocou- Capítulo 789

O assunto começou depois de um  Episódio dos Simpsons no qual o Homer se espanta por ter gostado de brincar com a Lisa e confessa que os adultos fingem que gostam de brincar com  as crianças enquanto cada fibra do corpo quer fazer outra coisa. Quem nunca?

No dia seguinte, as crianças falaram que eu não brinco com elas e fizeram uma lista de pessoas muito mais legais que eu que brincam "o tempo todo". Eles falaram que eu "só vigio" a brincadeira e não brinco junto, "só de boca-de-forno".  Tem um fundo de razão. Fiquei arrasada e quase acreditei que eu era uma mãe negligente.

Depois, pensando por outro lado... Minha tarefa é tornar a infância delas o melhor possível. Cheio de crianças e brincadeiras. Brincar junto o tempo todo? A gente conversa o dia inteiro, nossa vida é agradável e até bem divertida. Depois disso comecei a pedir recibo de cada brincadeira.

- ''tô presinho mas não sei''
- esconder 25 brinquedos no quintal para eles brincarem de Aves de rapina
- Ir na praça.
- Imagem e Ação

Não contou como brincadeira, apesar da minha insistência, receber os amiguinhos em casa, passear no supermercado. "Forninho do amor". que consiste em ficar debaixo do edredon não conta como brincadeira porque é "mordomia"

 Ah, neeeem.  Filho gosta de reclamar mesmo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Uma dica para criança comer bem



A gente costuma escutar: "meu filho não come", "ele só quer comer besteira". Já vi barbáries do tipo obrigar criança a comer sob gritos e lágrimas, dar mata leão  e enfiar comida na boca dela,  fazer chantagens emocionais que variam de doenças horríveis à fome das criancinhas da Àfrica.



Aqui em casa, a regra para as crianças comerem bem é deixar com fome. O resto é contexto: as refeições são feitas na mesa, com assuntos agradáveis.  Se a fome é desesperadora e não dá tempo de esperar a refeição, a comida que eles conseguem alcançar são frutas.

Mas tem uma coisa que eu sou tão radical que ganhei o apelido de "louca da água". Eu só ponho o pé pra fora de casa com garrafa de água na bolsa, às vezes várias. Só de pensar em sair sem, me dá calafrios. Porque passar fome ainda vai, mas sede....


sábado, 21 de maio de 2016

Do século passado


Em uma enciclopédia, a avó mostrava para Bebel a foto de uma máquina de escrever  Não sei qual das três era mais antiga, a máquina, a enciclopédia ou a avó.  (Desculpa a piada, mamãe)

Ela explicava para Bebel que antigamente as pessoas escreviam em máquinas como aquelas. E se queriam mais cópias, usavam papel carbono, avós dos xerox. Bebel interessada em saber como aquilo tudo tinha a ver com a escola:

- E cada aluno tinha uma?

Espelho, espelho meu....

Porque eu, na TPM, costumo ficar meio carente:
- Vocês me acham linda?
- Como assim?
- Tipo com uma nota de 0 a 10.
Bebel:
- Mas você quer que a gente te dê  nota como filho ou como pessoa que está passando na rua?
Melhor até mudar de assunto.



sábado, 30 de abril de 2016

O predador

João foi um menino de apartamento até o final do ano passado. Natureza. só no clube, devidamente controlada. Quando mudamos para a roça, ele se descobriu.

A primeira etapa da transformação foi ele virar naturista. Virou um custo convencê-lo a vestir roupa quando estava no quintal. Só quando chegavam visitas, e mesmo assim, dependendo da visita.

Aí nós fomos acampar. Vê-lo andando no mato, subindo pedra, nadando em cachoeira foi ver um bichinho no seu habitat. E ele não cansou de surpreender. Perguntou quando ia ser a próxima viagem e se a gente podia pescar. Pescar??!!  De onde ele tira essas ideias? Pescar pra que, João? Ele não tinha dúvidas:

- Para não precisar comprar peixe, uai.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Memórias afetivas

Esse texto delicado sobre Memórias afetivas me lembrou Rubem Alves ensinando que o que o coração ama fica eterno.

A gente vive cotidianamente de um lado para o outro, pagando contas, trabalhando, mantendo as crianças limpas e alimentadas, num trabalho de formiguinha. No meio disso, alguns momentos ficam eternizados. É aquela hora em que a gente olha pro filho sendo ele e pensa: "que bichinho bunitinho".

E torce para que eles tambem tenham  tirado retratos afetivos dos momentos que viveram. Das conversas, dos cheiros, das experiências (que espero que tenham sido mais boas que ruins). Porque é isso o que nos constitui e o que de importante que a gente leva na bagagem. Mais nada.


sábado, 23 de abril de 2016

A senha

Quando cheguei em casa, encontrei com uma cena digna de sonhos. As crianças na escada me esperando, morrendo de saudades. Uma coisa linda! Só desconfiei que o amor estava demais quando um  dos dois falou, como se fosse inocentemente :
- Sabe de uma coisa? a gente não está conseguindo entrar no netflix....

quinta-feira, 21 de abril de 2016

As borboletas

Vinicius de Morais , 1970

Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.

Borboletas brancas
São alegres e francas.



Borboletas azuis

Gostam muito de luz.


As amarelinhas

São tão bonitinhas!



E as pretas, então...

Oh, que escuridão!





Você provavelmente leu esse poema na escola e ficou feliz em co-existir com borboletas tão multicoloridas. Eu também. Até o dia que comecei a plantar couves. 

As borboletas brancas, tão alegres e francas, botam ovos que viram lagartas gigantes que comem um pé de couve em um dia. Uma vez que disputamos recursos, elas estão do outro lado da fronteira na disputa nós x os outros.

Xô, borboletas brancas!


Substantivo feminino


A avó perguntou:
- Quem sabe o que é um troglodita?
-???
- É um homem das cavernas. E quem sabe o que é poliglota?
Bebel:
- A mulher do troglodita.

sábado, 16 de abril de 2016

Disco arranhado

Uma das vantagens de ser mãe é poder ser exagerada nas demonstrações de afeto, pois isso é mais ou menos esperado da gente. Às vezes eu pego um, beijo e abraço e fico na babação de ovo. Eles, enquanto tentam fugir, já tem as respostas:
- Fala uma coisa que eu não sei! Varia o assunto. Vira o disco!
João, bem informado das tecnologias do século passado:
- Não adianta virar o disco porque do outro lado está a mesma coisa. Tem é que trocar o disco.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Droga de Mãe

Vi um post  no Diário de uma mãe de dois e finalmente pude sair do armário: eu como chocolate escondido das crianças. Eu poderia até falar que meus propósitos são altruístas, mas não tenho essa cara de pau. Eles sabem que eu daria para eles o último copo de água, o último prato de comida, a última roupa quentinha, o último centavo do bolso, mas o último chocolate NÃO! De posse dessa informação, eles usam táticas terroristas. Apesar do meu esforço para esconder as provas do crime, às vezes um papelzinho escapa. E eles se vingam:
- Vai engordar, hein, mamãe?

quarta-feira, 30 de março de 2016

O filho da feminista


Quem me conhece, sabe que sou feminista de carteirinha, de modo que  não sei de onde veio esse assunto.
Era a última fatia de presunto e João pediu para ele. Brinquei:
- Sabe o que acontece com quem come o último pedaço?
Bebel:
- Chega por último?
João:
- Quem come o último não casa.
- Uai, João. Você não quer casar?
- É que comer o último é problema de menina, É o homem que dá o anel.

sábado, 26 de março de 2016

Verdades sobre o verde


Eu morava numa casa com um quintal grande e verde quando era criança. Lembro da grama, das árvores, da terra. Só não conhecia a trabalheira dos meus pais para cuidar daquilo tudo. Quando voltei, adulta, para uma casa com quintal, saída de 15 anos morando em um apartamento, descobri a verdade sobre quintais verdejantes.



- O mato cresce 1 metro por mês, diferente da grama, arduamente cultivada. O mato é o invasor, quer tudo para ele. Não tem dessa de juntar-se ao inimigo nem é possível exterminá-lo. Tem que conviver e disputar terreno, cotidianamente.

- Insetos, muitos insetos. Vem nas modalidades perigosos, nojentos, infinitos, etc.

- Não basta jogar as sementes para cima e esperar a mãe natureza retribuir com alimentos. Há vários outros seres vivos interessados no que a gente está plantando: lagartas, formigas, fungos, aves e até o cachorro.

A família busca uma relação harmônica com a natureza mas requer esforço, ainda mais que os recém-chegados somos nós.


terça-feira, 22 de março de 2016

Papo macabro

Bebel e João tem uma cornucópia de assunto. O tema da vez era gêmeos siamenses:
- ... e se for grudado pelo umbigo?
- Aí fica fácil de separar.
- E se só tiver 2 pernas?
- Fica saci, né?
- .. e se tiver duas cabeças?
Eles pararam para pensar um pouco. Bebel: 
- Aí a mãe não pode dar nome porque vai ficar difícil de escolher. 

domingo, 20 de março de 2016

A turma da mamãe


Final de semana chamamos família e amigos para visitar a gente, bater papo e curtir o quintal. Tem os recorrentes e os itinerantes. Cada final de semana é uma configuração diferente:
- Mamãe, vamos chamar crianças para brincar com a gente?  E, olha, adulto com espírito de criança não conta.

terça-feira, 15 de março de 2016

Valha-me, Paulo Freire!


Vários  motivos me levaram a dar aulas na educação básica. Um deles foi a provocação da Bebel:
- Dar aulas para adultos é fácil. Quero ver dar aulas para criança.

Esse mês, comecei a dar aulas de língua portuguesa para o 6°ano no ensino público. Eu já tinha ouvido falar,  pois quase todas as minhas amigas são professoras.  Senti compaixão e condescendência no sorriso delas quando contei.

Fui designada para dar aulas de Língua Portuguesa. Para a primeira aula consegui ter acesso ao livro texto, mas não à lista de chamada. Eu havia preparado uma leitura oral da música Auto-Reverse do Rappa. Para a gente ir se conhecendo. Quem sabe rolava um debate qualificado depois?

Quando cheguei, 35 crianças de 11 anos amontoavam-se na sala. Cadeiras em desordem, papel no chão, meninos e meninas brincando, conversando, brigando, gritando, atirando coisas uns nos outros. Uns 5 ou 10 sentados, com olhares tristes de doer. Uma menina no cio e seu séquito de meninos  de outras turmas que chutavam a porta e dançavam na janela, pendurados nas vigas da escola. Vários meninos jogando objetos uns nos outros, passando por cima das cadeiras para engalfinharem-se , algumas vezes brincando. As meninas gritando umas com as outras e comigo: "Fessôra, fessôra, elx me xingou, bateu, jogou, pegou..., Fêssora, fêssora".

As diretrizes da coordenadora foram: "não deixe eles saírem de sala. Se a coisa ficar muito difícil, pode mandar os mais desordeiros para a minha sala"

O que fazer? Eis a questão.

Cenas do próximo capítulo.


domingo, 6 de março de 2016

Whatsapp mental

Outro dia, comprei uma goiabada pela primeira vez na vida. Quando cheguei em casa, fiquei sabendo que a bisa tinha acabado de falar no doce. Ou seja, ela me passou um whatsapp mental. A história começou aí.

No cotidiano, a gente faz sempre as mesmas coisas. Aí fica fácil prever futuro:
- Posso pegar sua senha de email para jogar esse jogo super incrível?
- Vou te responder por whatsapp mental.

Ontem, vieram as crianças e um amiguinho pedir para jogar batalha ninja no meu computador. Respondi telepaticamente. O amigo, mesmo tendo captado a mensagem, ficou cético e desafiou:
- Eu vou te mandar um, hein?
Inferi que seria: "Deixaaaa?!! Por favor!!!" e respondi: "Não"
Ele ficou convencido. ;-)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Educanto


Quando morávamos, a tribo inteira, em um apartamento pequeno, por mais que a gente vivesse bem, passeasse e tal, existia um stress subliminar de bicho confinado que eu só fui ter consciência que sentia quando deixei de sentir, após mudarmos para uma casa com quintal.

Criou-se um novo modus vivendi que inclui horta, água, terra. Ganhou-se céu estrelado, cheiro de terra molhada, alimentos orgânicos e, o mais valioso, espaço. Podemos ficar juntos, mas não amontoados. Podemos passar a manhã no quintal, que nem índios (que já fizeram o dever de casa).

Foi daí que nasceu a ideia de um espaço de convivência: Educanto. A proposta é receber crianças no período da manhã para fazer o dever e brincar. Há opção por mês e por dia. Pode-se optar por horário que inclui  almoço e banho. Nós estamos animados com a porta que se abre.


terça-feira, 1 de março de 2016

A Bailarina frustrada


- Deixa eu dar um rodopio agora?
- NÃO!

- Um passo só! Um pliê rapidinho?
- Nem pensar! PÁRA com isso!

- Andar na ponta do pé? Ninguém vai nem perceber...
- Mamãe! Pára de querer me fazer pagar mico na escola!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Máquinas modernas

Viajar na Enterprise de Star Trek (com  Will Shatner dos anos 80)  mais rápido que a velocidade da luz é um sonho nerd de criança. Pois proporcionamos para a bisa seu próprio vôo em uma máquina superpoderosa que vai longe rápido. Ela tem conversado com o bisneto francês pelo Skype

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Ponto de vista


Senso de humor é uma virtude e um seguro contra perrengues.

Saímos de casa e Pretinha, que não late para visitas, gatos e pombos, começou a ganir de escutar na esquina. Em poucos segundos, todos os outros cachorros da rua acompanharam em ensurdecedor colóquio. Bebel:
- O escândalo da Pretinha deve ter lembrado os outros cachorros  que os donos não estavam em casa.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Adestramento de criança

As crianças ficam admiradas pois a cachorra senta quando eu olho para ela e ordeno mentalmente: "Senta!" (verdade que é o único adestramento que consegui até agora). Mas as crianças também são bem adestradas. Por causa disso, deu-se esse "diálogo" hoje:
- Mamãe, só tem uma colher de açúcar no meu café com leite.
- (cara de não-é-comigo)
-  Ema, ema, ema, (cada um com seu problema), não é? Eu vou servir o meu próprio açúcar.

Filosofia para menores

"Duas coisas me enchem o espírito de admiração e de reverência (...):
 o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim"  
Kant.


Nós já escolhemos o nosso lado da Força. Sei que as crianças tem bom coração, juízo e algum discernimento. Devido a  isso, já tenho resposta para a maioria das perguntas:
- Mamãe, posso fazer tal coisa?
- Faça o que tu queres pois é tudo da Lei.

Eles sabem que com grandes poderes vem grandes responsabilidades e ficam felizes pelo tratamento de grandinhos que recebem.  O que eu não esperava é que a questão da origem da moral fosse intrigar João:
- Mas e se a mãe da pessoa for do mal, como a criança vai saber qual é a Lei?

Acaba aprendendo, meu filho.  Ou não. 



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Aforismos

"Essas coisinhas que ficam flutuando e que a gente vê quando bate o sol são as células do ar" João

"O Ano Novo só dura um minuto. Depois já é o ano normal" Bebel

sábado, 30 de janeiro de 2016

Choque de gerações


Fomos ao cinema assistir O Bom Dinossauro. Filme emocionate, gostoso de assistir. Demos boas risadas juntos. Na saída, observei que nós, os adultos, estávamos com as caras inchadas e narizes vermelhos de  tanto chorar. As crianças, lampeiras como se nada tivesse acontecido. Como assim?! E tudo o que aconteceu?! E o (SPOILER)?! E as (SPOILER)?!

Os dois concordaram com a resposta:
- É engraçado, uai!
Gerações diferentes

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O oco do buraco

As crianças foram para uma temporada na casa da avó e ficamos trocando whatsapp no final do dia. Mandei uma foto do quintal, que também estava com saudades. As crianças responderam imediatamente:
- CADÊ O BURACO?



O buraco brotou espontaneamente com as brincadeiras. Primeiro com pás, depois ganhou reforços com o carrinho de mão. Individualmente ou em grupos, as crianças reúnem-se em volta do buraco, tirando terra infinitamente dele. Á noite, nós, os adultos, tentamos enchê-lo apesar da terra ao redor desaparecer misteriosamente.

Depois de sol, cuidados com a dengue e ausência de crianças, o buraco secou. Mas eu tranquilizei as crianças:
-  É só regar que ele volta.