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domingo, 21 de abril de 2019

O rebelde e a bolha



Era um sábado de sol e estava prestes a começar um teatro infantil no parque municipal. As cadeiras ainda estavam vazias e a hora de começar a peça estava chegando. Foi quando eu vi a Bolha. Os dentro da bolha era o grupo a que eu pertencia,  pessoas que foram no parque assistir a peça e os organizadores do evento. Ocupávamos as cadeiras, tranquilos, brancos e sorridentes. Os fora da bolha eram as famílias que foram no parque passear e deram com o evento. Escutavam o convite, iam lá para ver mas passavam direto orientando as crianças para não irem, que devia pagar, que ali não era o lugar deles. 

Várias famílias pobres, pretas e pardas passaram e não entraram, mesmo as cadeiras estando vazias, mesmo as crianças pedindo, mesmo convidadas pela caixa de som. Repelidas pela Bolha, antiga e invisível.

Mas o mendigo não. Maltrapilho, nenhum dente na boca, cheiro peculiar, a cara era mistura de cachaça, transtorno mental e criança que vai no circo. Bateu palma, riu, recebeu bandeirinha e torceu para a Chuva, um dos pretendente da princesa, por quem ela era apaixonada.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Como ser menos chata

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O programa começou errado na saída. Depois de abastecer $20. o cartão, única forma de pagamento disponível, não passou. Bebel, do meu lado, não era com ela. João dormia no banco de trás. Do lado de fora, sol rachando e 30 minutos para chegar no compromisso. Eu tinha certeza que tinha saldo, mas a Caixa Econômica Federal demorou mais de 30 minutos para identificar a transação entre duas contas de mesmo cpf. O frentista, o mesmo que me atende semanalmente (e está acostumado a me ver pingar mixaria de gasolina no tanque ) bateu o martelo: “não posso fazer nada. Estaciona ali e conversa com a gerência”. Nos minutos seguintes, fui ignorada por alguém em uma janelinha na tentativa de fazer uma transferência bancária para o posto. Pedi o frentista que me atende toda semana para passar o cartão mais uma vez. A transação foi aprovada e fui embora. Whitepeopleproblem, tudo bem. Mas valeu a aula que eu ganhei depois.

Entrei no carro bufando e subi Bahia soltando cobras e lagartos até Bebel dar o limite: “Olha, o banco e o posto estava errados, mas vc estava errada também”. O que vc acha de andar por aí sem nem um tostão no bolso? Continuou ela: “agora que resolveu, vc está xingando por causa de que? ”

- “porque eu passei de caloteira na frente de vcs”. Até eu achei o argumento ridículo. Tão ridículo que João riu no banco de trás: “ Esse não está na sua lista de defeitos”

Bebel continuou. O frentista é um babaca porque parecia que estava gostando, mesmo com aquela cara de “coitada, só estou cumprindo ordens. “Só que”, ponderou Bebel, “ele estava fazendo o trabalho dele. Nem mais, nem menos. E vc devia era parar de reclamar”. Recolhi miudinha.


Chegando no compromisso, faltando 5 minutos, João abre a porta do carro sem olhar e bate no carro que passava na hora. Desce um cara, olha o estrago na lataria, me olha: “ Deu nada não, dona”. João, o escoteiro: “Deu sim, Olha aí!” Deu mesmo. E foi feio. Nisso, a esposa sai do carro : “pois é, olha o prejuízo, acontece mesmo, eu tbm tenho filhos, olha que perigo, , menino é %@#$ mesmo”. Eu nem tinha argumento, mas ela viu  minha cara de: “filhos tbm? Sabe como é. Olha aí. Monte de conta e esse prejuízo aí. Graças a Deus o pirralho está inteiro”. Fato é que em vez de me cobrar uma pequena fortuna de lanternagem, ela entendeu e relevou. Porque existe gente assim. 


Depois que o casal foi embora, dei a lição (mais aliviada do que com raiva, mas fiz cara de intimidadora): “atenção para abrir a porta do carro. Em algum universo paralelo, o outro carro levou a porta e um pedaço do João e o que a gente não está aqui de boas” Isso tudo antes do compromisso, que, afinal de contas a gente chegou no horário. 

No caminho, com bom humor e certo sarcasmo, Bebel : “chorando DE novo, mamãe?