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domingo, 21 de abril de 2019

O rebelde e a bolha



Era um sábado de sol e estava prestes a começar um teatro infantil no parque municipal. As cadeiras ainda estavam vazias e a hora de começar a peça estava chegando. Foi quando eu vi a Bolha. Os dentro da bolha era o grupo a que eu pertencia,  pessoas que foram no parque assistir a peça e os organizadores do evento. Ocupávamos as cadeiras, tranquilos, brancos e sorridentes. Os fora da bolha eram as famílias que foram no parque passear e deram com o evento. Escutavam o convite, iam lá para ver mas passavam direto orientando as crianças para não irem, que devia pagar, que ali não era o lugar deles. 

Várias famílias pobres, pretas e pardas passaram e não entraram, mesmo as cadeiras estando vazias, mesmo as crianças pedindo, mesmo convidadas pela caixa de som. Repelidas pela Bolha, antiga e invisível.

Mas o mendigo não. Maltrapilho, nenhum dente na boca, cheiro peculiar, a cara era mistura de cachaça, transtorno mental e criança que vai no circo. Bateu palma, riu, recebeu bandeirinha e torceu para a Chuva, um dos pretendente da princesa, por quem ela era apaixonada.