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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Carta a uma amiga grávida


Amiga, fiquei feliz com a notícia da sua gravidez e tentei lembrar o que eu sentia e imaginava quando fiquei grávida, da primeira e da segunda vez. É a minha história. Eu acho que as pessoas passam por experiências diferentes porém coletivamente semelhantes.

Não senti nada daquela coisa que a grávida fica linda e resplandecente. Eu me sentia pesada  e gorda. Acho bonito as mulheres que passam a gravidez com mais elegância do que eu passei. Bela não, mas saudável, o que é o mais importante.

Grávida de 9 meses , sem empregada e cuidando da Bebel tive que desenvolver a “Teoria Lata d´àgua”. Pelo menos eu não tenho que andar para buscar água fora de casa, porque se tivesse, teria que ir . Ou seja, no perrengue a gente agüenta. 

Quando as pessoas falavam que eu não ia mais dormir, não acreditava. Não leve isso tão a sério! Acontece, mas não é o fim do mundo. A Bebel já estava dormindo a noite toda com uns 3-8 meses. Depois veio o João e começou tudo de novo. Uma noite, ele aos 3 meses e ela aos 2 anos, tive uma longa, deliciosa e revigorante noite inteira de sono. Fica melhor ainda depois que se é privada dela por algum tempo.
Que é cansativo e fisicamente extenuante, é. Mas dá para viver além da maternidade. Continuei mulher . Terminei o mestrado entre bebês, apresentei artigo em congresso. Tem muito terror nessa tal “trabalheira”.

Não espere amar instantaneamente aquele estranho que te entregarem na maternidade. Não espere que, no primeiro dia, o leite jorre deliciosamente. Os primeiros dias com a Bebel foram dureza. Com o João foi mais fácil porque eu já sabia o que esperar: pontos, dor, chateação. Passa.Depois disso, esqueci todas as coisas ruins que passei com a Bebel ( e que nem foram tantas) e engravidei do João. A natureza é sábia, o que é ruim a gente esquece mesmo.

Pai é bom, mas não espere muito dele, que estará aterrorizado, muito mais do que você.  O costume ainda é a mulher cuidar dos filhos, por mais que o pai ache que faz o máximo que pode. Avós são ótimas  companheiras da mãe de primeira viagem nessa hora, principalmente se são discretas e não-mandonas. Uma boa ajudante é fundamental. Se ela for boa com bebês e crianças sua qualidade de vida terá melhoras significativas.

Alguns dias você terá vontade de chorar, de apelar com todo mundo, com o filho, de fugir. Com certeza você vai sentir saudades dos tempos remotos que ir à padaria era simples. Ir ao cinema, então...

 Provavelmente ficará desapontada, como eu fiquei, com a falta de troca nas interações com um recém-nascido. Melhora.

A minha impressão é que bebês são menos frágeis do que aparentam. Nossa espécie sobreviveu à fome, predadores variados. O bebê sobreviverá aos nossos cuidados maternos num apartamento de classe média. Estatisticamente há mais chance das coisas darem certo do que errado.

 Depois que o bebê aprender a sorrir, você vai sentir um amor tão forte que não dá pra explicar. Esse amor vai se renovando a cada coisa nova que ele for aprendendo. Um filho é como um re-nascimento, como ver tudo de novo com o olhar de uma criança, com ternura e responsabilidade. Com disse Moraes Moreira: “Entrou no meu coração e sentou na minha mão”. Assisto, maravilhada, cada pequena aprendizagem e como, de um dia para o outro, eles dão um salto e viram outra pessoa, continuando os mesmos.

Fiquei mais esperta, mais objetiva e menos chorona depois da maternidade. Consegui boas oportunidades profissionais. Curei de uma antiga falta de sentido existencial. Sinto-me plena e realizada. Não é uma ou outra noite de sono que vai mudar isso.